Imagine ficar praticamente oito horas em uma clínica de olhos com uma lista interminável de exames para fazer e na loja, contas a pagar, cheques devolvidos de clientes, orçamentos, UFA, haja cabeça para tudo isso!
Adiei por muito tempo esta situação, agora não tenho saída, precisei ir.
Fiz o primeiro exame às 9h e ainda estava agitado, desci para tomar café na esquina da Rua São José. Estava um movimento intenso de pessoas e carros barulhentos, pedi um café com pão na chapa (é imbatível pela manhã), que só não foi melhor por causa do atendimento.
Não sei se o problema era comigo, mas me pareceu que a balconista estava de mal com a vida e achei que passava esta frieza para as pessoas que estavam ao redor do balcão. Engraçado é que parecia que ninguém notava ou não ligava para aquilo.
Tive a impressão que o caixa, o gerente, todos estavam com as mesmas caras fechadas, como se estivessem ali fazendo um favor, um clima pesado que muito me incomodou.
Quando trabalhava na Embratel, ia visitar clientes e passava sempre por ali, via essas mesmas pessoas e nunca tive essa percepção, talvez por estar sempre tão apressado e envolvido com os meus problemas, que não percebia este tipo de coisa, acho até que não percebia nada ao meu redor...
Ignorei, não ia deixar aquela situação piorar ainda mais o meu dia, estava ali esperando o tempo passar para fazer o outro exame às 10h.
Relaxei e entre um gole e outro de café, comecei observar as pessoas que passavam por ali, afinal, naquele momento não tinha outra saída, precisava aguardar o tempo passar e voltar para a “bendita” clínica.
Incrível, eu comecei a me sentir como um ser de outro mundo que acabou de chegar e observava as pessoas de longe, como se elas fossem diferentes de mim.
Olhava para cada uma delas e parecia que estava lendo seus pensamentos através de seus gestos e semblantes. Elas me passavam emoção, felicidade e a grande maioria preocupação.
Comecei então a perceber árvores, como um ipê rosa, um ninho de pássaros e o olhar das pessoas.
Camelôs vendendo objetos interessantes, flores e tantas outras coisas que sempre estiveram ali e eu nunca havia percebido.
Naquele momento, havia esquecido dos problemas, saí de mim e olhei ao meu redor, não só com os olhos, mas também com o coração.
Percebi que a minha sensibilidade estava mais aguçada, o que permitiu por alguns momentos olhar aquele lugar de outra forma, de um outro ângulo. Tive uma sensação agradável e pude em silêncio solicitar a Deus pedidos de ajuda àqueles que pareciam preocupados e tristes, e um breve sorriso para aqueles que passavam felizes e de bem com a vida.
Me senti mais leve, mais feliz e revitalizado para encarar as incertezas e os problemas comuns da vida...
Naquele momento, despedi-me com um sorriso para a balconista, que agora já não me parecia tão “chata”!
Sidney
05/10/05