domingo, 1 de fevereiro de 2009

Histórias do Cotidiano (Um dia diferente...)


Ontem foi um dia atribulado e um tanto incomum.

Além de ir ao médico e resolver alguns assuntos particulares, passei parte da tarde com o meu filho Marcelo, assisti junto com ele a um filme antigo de Alfred Hitchcock, (ele adora cinema), debatemos alguns aspectos do longa e saímos para um tarefa árdua: levar alguns equipamentos de som para uma possível troca por um outro aparelho, lá na rua da Conceição.

Ao chegar no local, percebi logo de cara que seria complicado a começar pelo estacionamento em frente da loja, era proibido.

Logo que estacionei, fui avisado que o guarda era invocado...

Falamos com a pessoa responsável da loja sobre o nosso objetivo e começamos a perceber a “embromação”...

Testaram os aparelhos e disseram que estavam com problema em um dos canais, etc e tal...

O que nós queríamos era trocar os três aparelhos por um. No final o cara queria de volta cem reais!
Fomos embora rapidinho, antes que o guarda invocado chegasse e complicasse ainda mais a situação.

No caminho de casa, ainda estávamos comentando o ocorrido e muito chateados com a perda de tempo, quando paramos em um sinal e se aproximou um rapaz vestido de palhaço, com aquele sorriso conhecido de todos nós. Gesticulando pediu licença e começou a falar rápido e com muita desenvoltura:

- Boa tarde! Desculpe-me abordá-los, estou aqui tentando alegrar as pessoas e notei que vocês estão um tanto chateados, faço parte de um grupo de teatro e estou arrecadando uma pequena contribuição em dinheiro, pode ser qualquer valor!

Ao lado tinha um senhor vendendo refrigerantes e água e que olhava com uma expressão indignada para o palhaço, se colocando a gritar de forma incansável como se quisesse não deixar o outro falar:

- Olha a água, é só um real!

Pude perceber que ele estava aguardando o resultado daquela investida do palhaço.

Quando coloquei a mão no bolso, o sinal abriu puxei um real e entreguei ao palhaço, que ainda fez chacota:

- Não vai te fazer falta?

Eu disse:

- Não, mas se for muito, me dá a metade!

Ele riu e agradeceu gesticulado e mostrando a nota de um real para o senhor dos refrigerantes.

Aquilo me chamou a atenção e pelo retrovisor pude perceber a indignação do senhor.
Imagino o que ele estava sentindo:

- Eu aqui neste sol, com este peso tentando vender minha mercadoria e esse palhaço “171”, ganha um real mole...

Não pude deixar de rir da situação que embora tenha sido cômica, foi ao mesmo tempo triste ver aquelas duas pessoas naquela situação tão difícil e até mesmo humilhante lutando para sobreviver.

Comentei com o meu filho, foram duas lições de vida que tivemos hoje:

- A primeira, você sempre encontrará em seu caminho pessoas em situações piores do que a sua.

- A segunda, jamais troque ou tente vender um aparelho usado em uma loja, ele nunca será avaliado como deve, ou melhor, nunca vai valer nada!

Sidney Paternoster Esteves
Rio, agosto de 2007.

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