sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Histórias de Botequim (Pic- assassina)



Em um desses sábados maravilhosos de verão resolvi ir para o Rio e sair um pouco de Maricá. Estava com saudade do chopp gelado no boteco Café e Bar Columbia ou bar do português (do meu amigo Adão) lá na Tijuca.

Vivi ali grandes momentos com o meu pai e meus irmãos, fiz grandes amizades e estava sentindo falta da “conversa fiada”.

Bem eclético, o boteco recebe vários tipos de pessoas, com variadas profissões, além, é claro dos aposentados, enfim, uma mistura muito boa que torna os assuntos os mais variados possíveis.

Fala-se de trabalho, notícias da semana, política, mas o assunto “quente” é o futebol, ainda mais que o Adáo é vascaíno e dos bons!

É benemérito, muito bem relacionado no Vasco e é claro, muito bom de papo.

Estava no meu segundo chopp quando chegou o "metrô", todos o chamam por este apelido ou de João.

Ele é aquele cara tranquilo, gosta de jogar uma bola no fim de semana, curte uma sauna no Club Municipal e só vive bem humorado, sorrindo para todos e o curioso é que mora em Vila Isabel, mas está sempre ali com a turma do botequim.

Estudei com ele no Pedro II, em Botafogo, e não o via há muito tempo.

Ele pediu uma cerveja e começamos a conversar sobre os velhos tempos, dos amigos da adolescência, até que ele me contou uma história que aconteceu com ele, daquelas “cabeludas” e inacreditáveis!

Tudo começou quando entrou um cara no botequim, virou para ele e disse:

- E aí “pic- assassina”?

Ele acenou com um sorriso "amarelo" e começou a contar a história:

- Pô Sidney, se eu te contar você não vai acreditar!

- Conta aí, já estou curioso!

- Conheci há um tempo atrás, a Jacira e vivia um relacionamento muito legal, ela era viúva, tinha uma filha que gostava muito de mim e de vez em quando, eu ficava na casa dela.

- Mas você não é casado?

- Sou, mas, sabe como é que é, essas coisas acontecem!

- Claro, e aí, o que aconteceu?

- Era uma sexta-feira e dormi no apartamento dela, de madrugada me despedi e fui embora...

- E sua mulher não te deu um desgaste?

- Não, no meu trabalho eu só vivo viajando e tenho um bom álibi.

- Ah, sim!

- Pois bem, logo pela manhã recebi uma ligação da filha dela dizendo que a mãe tinha falecido, teve um infarto fulminante, por pouco não aconteceu comigo lá.

- Que situação, João!

- Nem fala, o pior é que naquele momento eu jamais poderia imaginar que um dia viveria uma situação bem pior do que esta.

- Como assim?

- Semanas depois conheci a Ermengarda, uma coroa bonita, separada, com uma filha já adulta que lhe deu um netinho.

- Você é louco cara, se arrisca muito!

- É cara, dessa vez quase eu me dei mal, parece que foi castigo, dormi um sábado no apartamento dela e o pior é que naquele dia, ela estava menstruada, coisa que não acontecia há algum tempo, pois estava entrando na menopausa.

- E a sua mulher?

- Havia falado com a minha mulher que ia para São Paulo, foi a minha sorte!

- O que aconteceu?

- Acordei bem cedo e fui fazer café, levei um para ela na cama e quando fui acordá-la com um beijinho, senti que ela estava gelada igual uma pedra de mármore e constatei que ela estava morta, joguei o café para o alto e entrei em pânico!

- Eu não acredito!

- Pode acreditar, não sabia o que fazer naquela situação, fiquei andando de um lado para o outro e resolvi chamar a filha dela, liguei para ela e falei que precisava lhe falar com urgência, para ela vir o mais rápido possível na casa da mãe que eu estava aguardando. Ainda bem que era perto!

- Que situação!

- Eu até pensei, “vou embora e largo tudo aí”, mas depois pensei e vi que poderia dar alguma “zebra” e isto era a última coisa que eu queria naquele momento...

- Porque você não ligou para os bombeiros?

- Eu não conseguia raciocinar direito, fiquei esperando a Selma, filha dela, para combinarmos o que fazer.

- Tocou a campainha, pensei, era a Selma!

- E não era ela?

- Não, era a vizinha, dona Luiza, uma senhora de uns 80 anos mais ou menos e que tinha marcado de sair com ela para caminhar. A Ermengarda já havia falado dessa senhora, já estava com uma certa esclerose e era muito só, por isso de vez em quando saía com ela para fazer companhia.

- O que você falou?

- Mal abri a porta e a mulher já foi entrando e perguntando pela Ermengarda e eu disse que ela estava dormindo e que não estava passando bem, para ver se ela ia embora, né?!

- E aí?

- Ela nem ligou, foi para o quarto dizendo que ia ver como ela estava.

- Caraca...

- Só escutei um “berro” que deve ter acordado o prédio todo.

- O que você fez?

- Naquela hora eu só queria sumir, chorar, sei lá e a Selma que não chegava!

- Não demorou muito para encher a casa, chegou todo mundo junto, tinha porteiro, vizinhos, bombeiro e a polícia.

- E a Selma?

- Pois é, ela chegou em um péssimo momento.

- O que você falou para ela?

- Ela já chegou assustada com todo aquele movimento, olhou para mim, eu devia estar pálido e me perguntou, o que aconteceu, por que toda essa gente?

- Selma, acho que tem alguma coisa errada com a sua mãe!

- Porque você não entrou logo no assunto?

- Eu quis prepará-la, sabe aquela história “o gato subiu no telhado...”

- Pô João, não brinca!

- Eu estava perdido com todo aquele tumulto e continuei falando com ela:

- Eu sacudo e ela não acorda, acho que está morta!

- Morta, a minha mãe, o que você fez com ela?

- Pô Sidney, quando ela falou isso, as minhas pernas tremeram, nunca tive tanta saudade de minha casa e imaginei, “se minha mulher souber disso”, só faltava chegar algum repórter para “esmerdalhar” tudo.

- João é inacreditável! E o que você respondeu?

- Ué, que não havia feito nada, que havia dormido com a mãe dela e quando acordei pela manhã e fui dar um beijo nela, notei que ela estava fria, igual mármore!

- E ela como reagiu?

- Não deu nem tempo, sabe a dona Luiza? Aquela velha! Quando me lembro dá vontade de chutar o traseiro dela!

- Mas por quê? Coitada da mulher! Ela deve ter levado um grande “choque” ao ver a amiga morta estendida na cama.

- Sidney, ao ouvir a voz da Selma, filha da Ermengarda, ela correu para a moça e falou aos gritos:

- Selma, Sr. Delegado prenda este homem, eu sempre falei para a Ermengarda não confiar nele!

- Eu não acredito que essa mulher falou isso!

- Pois é, falou, e eu respondi que ela estava fora de si e que não sabia o que estava falando.

- E aí ela falou a seguinte besteira:

- Sr. Delegado, o senhor pode olhar lá no quarto que deve ter havido alguma briga, tem uma xícara de café quebrada no chão, café espalhado por todo canto além da cama estar com mancha de sangue.

- O que o delegado falou?

- Me perguntou o que eu tinha a dizer e eu disse:

- Sr. Delegado, o sangue que está na cama é da menstruação dela...

- Não tinha nem acabado de falar e a dona Luiza aos gritos falou:

- Mentira Sr.Delegado! Ela já estava na menopausa, este homem é mentiroso!

- Aí eu fiquei bravo, apontei para ela e falei:

- Se a senhora acha que estou mentindo, chame um médico para constatar e se a senhora quiser pode colocar o dedo e cheirar tá bom?! Quanto à xícara e o café no chão, quero te dizer que estava levando o café para ela na cama e quando vi que ela estava morta, levei um susto filho da p... e joguei aquela merda para cima. É isso aí seu delegado!

- João como você saiu dessa?

- Tive que ir para a delegacia prestar depoimento, ainda bem que o delegado era legal entendeu a minha situação e não conseguia disfarçar o sorriso. Ele escutou todo mundo, inclusive o médico que chegou no local e pôde adiantar que havia sido infarto fulminante, além é claro da Selma, que embora não aprovasse o relacionamento da mãe com um homem casado, tinha grande estima por mim.

- João, realmente é uma história incrível, vê se toma jeito agora!

- Sidney, eu vou parar com isso. Deus me deu outra chance e eu vou parar, eu preciso parar!

- Mas João, se “pintar” outra na “área”?

- Bem, tem uma condição!

- Qual?

- Peço um eletrocardiograma dela e se tiver problema de coração, pode ser a miss Brasil, tô fora!


Sidney Paternoster Esteves

Rio 17/01/08

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas que azar que esse cara teve hein! rs .. comovente e ao mesmo tempo cômico! rs .. beiijos!

Ceci disse...

PQP que falta de sorte...adorei.