Sempre achei muito legal acampar. Embora não tenha participado de muitos acampamentos, me encantava ver todas aquelas barracas e trailers. As pessoas conversando animadamente, crianças correndo, bicicletas, paqueras da garotada. Toda aquela cumplicidade para se divertirem, passar um fim de semana com a família, rever os amigos e apreciar a natureza.
No Recreio dos Bandeirantes (Rio de Janeiro), tem um Camping na praia da Macumba. É uma exuberância toda aquela natureza, os animais, como micos, diversas espécies de pássaros e, é claro, aquele “marzão” que mexe com a nossa imaginação. Sem falar dos quiosques para beber uma água de coco após uma caminhada e também uma cervejinha bem gelada.
O meu sogro apreciava muito acampar com a família e sempre foi um cara muito querido nesse lugar.
Há algum tempo atrás, ele estava em sua barraca conversando pelo rádio amador (um hobby na época) e quando acabou de falar, percebeu um menino aparentando quatro anos, de bochechas rosadas e um olhar curioso que se aproximou dele e perguntou:
- Moço, porque o Sr. fica falando ai nesse negócio o tempo todo?
Ele, que sempre gostou muito de crianças, resolveu brincar com o menino e iniciou uma conversa:
- Olha, eu vou te contar um segredo que você não pode contar para ninguém, você promete não contar?
- Prometo (ele encostou na boca os dois dedinhos indicadores cruzados e beijou).
- Bem, se é assim eu vou te contar... Eu sou o BATMAN!
- Você é o BATMAN?!
Ele ficou na ponta dos pés com as mãozinhas no rosto, os olhos esbugalhados, com aquela expressão de surpresa e ao mesmo tempo de alegria.
Continuou conversando com o menino:
- Psiu, fala baixo, ninguém pode saber, é um segredo, lembra?
Ele se aproximou do meu sogro e falou baixinho no ouvido dele:
- Tá bom... Cadê o Robin?
- O Robin não está aqui, você vai ficar no lugar dele, mas não fala para ninguém!
E assim o menino passou grande parte do dia de um lado para o outro da barraca falando com o meu sogro, olhar maroto e com aquele sorriso de cumplicidade, o pessoal ria muito de tudo aquilo. Na época a dupla (Batman e Robin) era muito popular e as crianças adoravam.
No dia seguinte na praia, estávamos conversando sentados na areia quando o menino se aproximou com um picolé na mão e o rostinho cheio de lágrimas dizendo para o meu sogro:
- BATMAN, dá uma “lambidinha” no meu picolé que o meu pai não quis comprar um para você!
Ele fazia “beicinho”, segurava o picolé com uma das mãos e a outra enxugava as lágrimas.
A inocência daquele menino, a decepção de não poder dar para o amigo Batman um picolé, “caraca” deu até vontade de chorar com ele.
O sogrão abaixou, com os olhos marejados, abraçou o menino e disse:
- Não chore, foi bom você não trazer o picolé. Eu estou gripado!
Logo sumiram as lágrimas e ele sorriu abraçando o meu sogro dizendo:
- A gente compra outro picolé amanhã, tá bom?!
É para derrubar qualquer um. Que situação... Não dava naquele momento para acabar a brincadeira e dizer que ele não era o Batman.
Só que não podíamos imaginar que essa pequena brincadeira chegaria a uma situação ainda mais constrangedora.
Ao anoitecer, o menino entrou correndo em nossa barraca chorando e gritando:
- BATMAN… BATMAN ... vai lá na nossa barraca que o meu pai está batendo na minha mãe!
Situação pior ainda. Não dava para se meter em briga de casal e o sogrão saiu com uma muito boa:
- Eu não posso ir lá porque se eu colocar a roupa do BATMAN todo mundo vai descobrir, mas eu tenho aquele amigo ali, o Sr. Mauricio (Gerente do Camping). Fala com ele, que ele vai lá resolver.
Lá foi ele, meu sogro acenou para o Maurício e fez um gesto para que ele ouvisse o menino.
Felizmente tudo foi resolvido pelo gerente do Camping, mas ficou uma lição, quando você brincar com uma criança não a subestime, pense no que você vai dizer para ela. A imaginação delas pode te surpreender.
Uma coisa é certa, o meu sogro não quer ouvir falar nem de longe a palavra BATMAN...também né?!
Sidney Paternoster Esteves
Um comentário:
Tao lindo.... muito legal Sid...
Crianca e mais experta do que pensamos neh?
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