segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Histórias do Cotidiano (Segure minha mão...)



Nunca esqueci aquele dia, 29/09/2005, quando o médico deu o resultado dos exames...
- Sinto muito, mas o resultado deu “positivo”.

Fiquei atordoado sem saber o que dizer. Olhei para minha linda mulher tentando dizer alguma coisa quando percebi o seu olhar meigo e um tanto triste, colocou as suas mãos no meu rosto e com um breve sorriso disse “calma vai dar tudo certo”.

Percebi naquele instante que eu estava mais nervoso e preocupado do que ela.
A sua serenidade e a tranquilidade com que recebeu aquela notícia me surpreendeu e me fez acreditar que conseguiríamos vencer mais essa etapa das nossas vidas.
Sabia que ia ser difícil e sinceramente busquei forças de dentro de mim para não chorar, não gritar “porque isso tinha que acontecer com ela, uma mulher nova, maravilhosa, que tem tantos sonhos?...”.

Contive-me, pensei em tudo aquilo e disse para mim mesmo, “não importa o que aconteça, ela jamais estará sozinha eu estarei com ela sempre, não importa a hora e o  lugar. Ela é a mulher de minha vida, o meu amor, a minha amiga, a minha paixão, a minha tão sonhada e inacreditável “ALMA GEMEA”.
É verdade, encontrei o tesouro que sempre procurei e buscarei forças não importa da onde para vencermos juntos, esse tal câncer de mama”.

Aquela sala de triagem no INCA com todas aquelas mulheres, algumas pensativas, outras nervosas e impacientes. Pude perceber uma coisa estarrecedora que veio mais tarde a ser confirmada pela assistente social, a grande maioria estava só e muitas delas abandonadas pelos maridos e sem o apoio necessário da família.
Quantas delas estavam precisando de um afago, um carinho, uma palavra de conforto para ter ânimo e coragem de seguir em frente.

Nesses momentos se eles, maridos e parentes, soubessem a força que dão, de segurar com carinho as mãos dessas mulheres, olhar para seus olhos com ternura, com carinho e dizer “eu te amo, você não está sozinha”. Acreditem, isso pode ajudar muito na recuperação e no equilíbrio emocional que é tão importante na recuperação da doença.

Foram longos os dias após a cirurgia de retirada dos nódulos, quimioterapia, radioterapia, psicólogo e assistente social. Sempre estive ao seu lado, noite e dia, cuidando, brincando, sorrindo, chorando...

No momento muito delicado que foi a queda total dos seus cabelos, seus lindos e longos cabelos que ela sempre se orgulhou, eu estava lá, e pude dizer para ela “você está linda” e recebi um presente, um lindo e sincero sorriso que jamais esqueci...
Ela ficou muito bem “carequinha” e para que as pessoas não ficassem olhando só para ela o tempo todo, raspei o meu também, assim, dividimos as atenções. Ela não se adaptou à peruca, coçava, era muito quente, enfim, foi ótima a decisão.

Ela se recuperou, os cabelos começaram a crescer e após 11 meses em novos exames de rotina o médico nos deu a notícia que haviam novos nódulos e que haveria necessidade de uma nova cirurgia para retirada. Dessa vez seria um pouco mais radical.

Não conseguia acreditar naquilo, depois de tanto sofrimento teríamos de recomeçar, não restava naquele momento outra alternativa, se não recomeçar...

Para variar, minha esposa serena, me dava força e equilíbrio emocional e, juntos, iniciamos todos os exames até ser marcada a nova cirurgia.

Eu rezava muito e passei a procurar todas as alternativas possíveis para tentar salvar minha linda mulher e foi então que um amigo falou do Centro Frei Luiz, em Jacarepaguá. Fomos para conhecer e ela começou a fazer um série de sessões de cirurgias espirituais com um médium da casa, incorporado com o espírito do  Dr. Frederick.
Na véspera da cirurgia no INCA, fizemos a última visita ao Frei Luiz, onde minha mulher recebeu a seguinte mensagem “você está curada, mas não deixe de procurar os médicos”, e recebeu alta do tratamento de cura.

Voltamos para casa e conversamos muito sobre tudo aquilo e ela como sempre, tranquila e com um pensamento positivo. Nunca ouvi a minha mulher reclamar, se revoltar ou ter reações que não fossem naturais para a situação. Ela sempre teve muita fé e confiança que tudo sairia bem e a única coisa que ela me pediu olhando, apenas olhando para dentro dos meus olhos foi: “segura a minha mão!”.

No dia seguinte seguimos para o INCA para a cirurgia, dei um beijinho nela e ela me disse para ficar calmo e fiquei ali até finalizar o preparo e a ver seguir na maca para o centro cirúrgico.

Saí dali com um aperto no coração, sem rumo, até que cheguei à Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, e ali fiquei por algum tempo rezando, chorando, pedindo a Deus pela aquela mulher maravilhosa que tanto me fazia feliz, aquela mulher querida por tantos, aquela mulher que lutava com tanta coragem e fé para se curar.

De repente tocou o meu celular e ao atender ouvi do outro lado uma voz suave e calma dizendo para mim “vem me buscar, amor, eu não precisei operar, os nódulos sumiram. Os médicos me perguntaram se eu tomei DORIL”.

Comecei a chorar compulsivamente no meio da rua e paralisado ali fiquei sem conseguir dar um passo, só conseguia dizer “obrigado meu Deus!”

Liguei para toda a família falando desse milagre e não é preciso dizer que ninguém conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Merecimento. Foi essa a explicação no Frei Luiz, não importa quantos peçam por você, quantos lugares diferentes você vá, você tem que merecer e foi isso que aconteceu. No centro cirúrgico, os médicos (três) ao examinarem, para marcar os nódulos nada encontraram, ainda na cama com a enfermeira, os médicos e anestesista, ninguém entendeu o ocorrido. Ao médico coube perguntar em tom de brincadeira “o que houve, tomou Doril?”
Era dia dos médicos e minha mulher ao receber a notícia ainda deitada beijou a mão do médico, deu parabéns pelo seu dia e disse: “são as energias positivas”. Ele escutou e deu um sorriso de contentamento.

Há uma curiosidade. O nome do cirurgião do INCA, na época, era Dr. Frederico.

Só agora, não sei por que, decidi escrever tudo isso, já se passaram seis anos, e até então minha esposa está curada e linda como sempre. Está trabalhando, e muito por sinal, mais do que deveria, porém, ela é assim mesmo, guerreira, cheia de vida e eu agradeço a Deus por ter merecido ser o homem da vida dela, de ter o privilégio de viver ao seu lado, que espero sinceramente, se Deus der uma mãozinha, por toda a eternidade, Fui...


Sidney Paternoster Esteves

17/11/2011